Escapulário, objeto santo, mas não mágico (Parte 1)

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Entres os títulos que são dados a Maria, Mãe de Jesus, se encontra o de Virgem do Carmo, ou Nossa Senhora do Monte Carmelo, cuja festa se celebra dia 16 de julho. Tal apelativo tem fundamentos bíblicos, históricos e pertence, de alguma forma, ao Magistério da Igreja, porquanto muitos Papas legislaram e deram frutuosas orientações sobre ele.

Em primeiro lugar recordemos que a palavra “Carmelo” tem origem na língua hebraica, o idioma de Jesus, mesmo se, conforme estudos recentes, ele falasse corriqueiramente o dialeto aramaico. Porém, o aramaico era um linguajar somente falado, não escrito. Os textos da thorá e dos profetas eram escritos em hebraico e Jesus os lia (cf Lc 4, 14-20).

A palavra Carmelo é junção de dois termos hebraicos: “Carmo” que significa “vinha”, e “El” que significa “Deus”. Portanto, Carmelo se traduz por “Vinha de Deus” ou “Jardim de Deus”. Carmelo é um monte que está no norte do território de Israel, onde viveu o Profeta Elias e alguns discípulos seus, por volta dos anos 900 a 850 antes de Cristo. Tem ao seu lado oeste o Mar Mediterrâneo, cuja vista é de uma beleza sem par. O Rei Salomão quando quis elogiar sua bonita esposa exclamou: “Tua cabeça é tão bela quanto o Carmelo e teus cabelos têm a cor da púrpura” (Ct 7,6).

Sobre este soberbo monte de cerca de 600 metros de altitude, se passou o famoso episódio da chuva que, pela oração de Elias, depois de um longo período de seca, caiu abundante sobre as terras da região, tirando o povo do perigo de morrer de fome, por falta de víveres para as pessoas e os animais. Antes, porém, de descer a generosa precipitação atmosférica, uma pequena nuvem, do tamanho do punho de um homem, anunciou a grande alegria para o povo sedento. Chegou a salvação para suas lavouras e seus animais (Cf I Reis 18, 43-45).

A Igreja sempre viu na figura desta nuvem da qual caiu a chuva benfazeja e salvadora, a prefiguração de Maria, da qual nasceu o Redentor da humanidade, Jesus Cristo, Nosso Senhor. Interessante observar que, quando Deus criou o organismo feminino, colocou dentro dele o útero, o santuário da vida, que tem, em seu estado natural, o tamanho de um punho, ou seja, de uma mão fechada e que, ao se desenvolver nele a criança, vai se elastificando num movimento de muita beleza e precisão da natureza, para proteger o ser que nele cresce.

Na Idade Média, um grupo de anacoretas foi morar sobre este monte e entre seus eremitérios construíram uma capela dedicada à Mãe de Jesus que passaram a chamar de Nossa Senhora do Monte Carmelo, ou Nossa Senhora do Carmo.

Perseguidos por muçulmanos que desejavam destruir todos os sinais e vestígios de Cristo, tiveram que fugir para Europa, encontrando abrigo na Inglaterra, onde foram acolhidos e passaram a ser chamados de carmelitas, tendo sido constituídos, mais tarde, em Ordem Carmelitana. Porém, também aí, tal Ordem religiosa passou por terríveis momentos de incompreensões, perseguições, problemas externos e internos ao ponto de se ver ameaçada de extinção.  Necessitados de boa direção, foi eleito Prior Geral o Padre Simão Stock, um Sacerdote contemplativo que havia aderido a Ordem. Homem de muita oração, profundidade mística e teológica, também suplicou a misericórdia de Deus em favor de seu povo, tal como Elias em Israel, para que viesse a sair dos perigos que os ameaçavam.

Quando se encontrava em oração, no dia 16 de julho do ano de 1251, teve, em experiência mística, a visão da Mãe de Jesus com o Menino Deus nos braços e lhe entregou o escapulário, prometendo proteção diante dos perigos e garantindo a salvação eterna, conquistada por seu Divino Filho na cruz, àqueles que o trouxessem consigo até a hora da morte, obedecendo aos mandamentos divinos. Foram as seguintes as palavras ditas por Maria ao Monge: “Este será o privilégio para ti e todos os carmelitas; quem morrer vestido do escapulário, se salvará”.

Continuaremos o artigo na semana que vem.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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