Sebastião, Mártir da Misericórdia

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Nos dias atuais, muitas vezes nos assustamos com atentados terroristas praticados por falsos motivos religiosos, e por terrível corrupção política praticada por pessoas inescrupulosas que assumem o poder e simplesmente roubam dos cofres públicos os impostos que o povo paga com dificuldade. Numa situação como esta, contemplar modelos de fidelidade, de honestidade, de coerência de vida, de determinação moral e religiosa reforça a esperança, a coragem, o ânimo e a confiança em Deus.

Um dos modelos é São Sebastião, celebrado em centenas de paróquias no dia 20 de janeiro. Nele, além das virtudes acima recordadas, destaca-se também a misericórdia, tema do ano em curso, segundo a indicação de Papa Francisco para o mundo católico e para pessoas de boa vontade, mesmo seguidoras de outros credos.

Sebastião nasceu em Milão, no século III para o IV, e se tornou cristão. Vendo as atrocidades que o Império Romano praticava contra os seguidores de Cristo, alistou-se no poderoso exército imperial, com o objetivo secreto de proteger seus irmãos na fé. Diante dos desmandos do Imperador Diocleciano, homem sanguinário e violento, abusador e corrupto, o corajoso e fiel soldado procurou, de várias formas, libertar cristãos da tortura e da morte. Segundo relatos de sua biografia, certa vez, tentou misericordiosamente proteger dois irmãos gêmeos, fervorosos cristãos, chamados Marcos e Marceliano que estavam já condenados ao suplício. Tendo a família de tais cristãos, sendo ela pagã, pedido ao Administrador Cromácio adiamento da execução da pena, com o objetivo de demovê-los daquelas convicções de fé, estando já os dois quase cedendo às pressões, veio-lhe o Capitão Sebastião com palavras tão inspiradas e certas a respeito de Cristo, ditas com tal convicção e ardor, que os gêmeos retrocederam e se mostraram prontos ao martírio. Porém, diante das palavras e do testemunho de Sebastião, os pais e parentes dos dois irmãos se converteram e o próprio escrivão Nicóstrato, tendo ouvido a Sebastião e obtido a cura de sua mulher Zoé, pela oração daquele convicto e fiel soldado, aderiu à fé cristã. Mais tarde, também o Administrador Cromácio pediu o batismo, chegando a número superior a sessenta, as pessoas que se converteram à fé católica à ocasião. Por estes acontecimentos, tais gêmeos ficaram livres do martírio.

Praticando a misericórdia de todas as maneiras, Sebastião logo foi descoberto pelas autoridades que serviam ao Imperador Diocleciano. Este, cheio de fúria, o repreendeu severamente e o ameaçou de pesadas punições. Preso e torturado, mas sempre e cada vez mais fiel a Cristo e à Igreja, Sebastião foi condenado à morte, sendo atado ao tronco de uma árvore e flechado com muitas setas. Tendo seu corpo, supostamente morto, jogado em um esgoto, foi a cristã Irene (Santa Irene) recolhê-lo para limpá-lo e dar-lhe digna sepultura. Porém, ao perceber que ainda estava vivo, com a ajuda de outros fiéis cristãos, curou-lhes os ferimentos e cuidou dele de tal forma que veio a recobrar perfeita saúde, força e robustez próprias de um valente e musculoso soldado. Apresentando-se novamente ao Imperador Diocleciano que já o considerava morto, o terrível tirano mandou novamente torturá-lo até a morte com golpes de paus, pedras e bolas de chumbo. Morreu, contudo sem vacilar na fé, entregando sua alma a Deus, sendo sepultado nas imediações de Roma, num lugar hoje conhecido como Catacumbas de São Sebastião, na Via Ápia.

Praticou assim, em grau de heroicidade, as Obras de Misericórdia ensinadas por Cristo, necessárias para a salvação, conforme o evangelho de São Mateus (Mt, 25, 31-46).

Na bula Misericordiae Vultos, o Papa Francisco pede: “Abramos nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs provados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de ajuda.” Também diz o Papa: “Redescubramos as Obras de Misericórdia Corporal: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não nos esqueçamos das Obras de Misericórdia Espiritual: acolher dos indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas molestas, rezar a Deus pelos falecidos” (MV 15).

Ao exemplo do venerado Mártir São Sebastião, recobram-se forças para enfrentar as adversidades da vida, as decepções pessoais e políticas, as ameaças terroristas e a tantas outras situações que hoje podem causar ameaças à dignidade humana e ao direito de praticar livremente a fé.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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