Os Efeitos da Ressurreição de Cristo

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Diante de Anás de Caifás, Pedro faz uma profissão de fé. Depois de ter curado o paralítico na Porta Formosa do templo de Jerusalém, dizendo “ouro e prata eu não tenho, mas o que tenho te dou: em nome de Jesus Cristo, o nazareno, levanta-te e anda” (cf At 3,1-10), passou a ser vítima de perseguição das autoridades judaicas. Mas, com coragem, diz: “este homem está curado diante de vós, é por meio do nome de Jesus Cristo, o Nazareno, que vós crucificastes e que Deus ressuscitou dos mortos” (At 4, 10).

A cura feita, sabiam, era obra de Cristo, não de Pedro, pois somente Deus tem o poder de realizar milagres, podendo fazê-lo pela intermediação dos santos.

Vê-se uma série de efeitos. A coragem inesperada de Pedro e dos demais apóstolos, antes medrosos, acanhados, agora sem medo algum e sem nenhuma preocupação sobre o que lhes poderia acontecer, nasce da convicção plena da vitória de Cristo sobre a morte. Agora os discípulos, sem receios, anunciam e denunciam, falam abertamente sobre os fatos, ao ponto das autoridades judaicas contrárias à atuação deles, chegarem à admiração, como afirma o texto sagrado: “os interrogadores ficaram admirados ao verem a coragem de Pedro e João, sendo eles pessoas simples e sem instrução” (cf At 4, 1- 37). Arrastavam multidões, ao ponto de as próprias autoridades dizerem: “Eles realizam milagres notórios” (At 4, 16).

As palavras de Pedro diante da autoridade eram uma verdadeira profissão de fé em dois sentidos: a certeza de que Cristo havia ressuscitado e a convicção plena de que Cristo continuava agindo como antes, entre eles. Agora com um corpo, ao mesmo tempo natural e sobrenatural, prossegue fazendo milagres como anteriormente.

A comunidade cristã sempre acreditou, ensinou e propagou estas duas verdades. Portanto, é efeito da ressurreição a celebração da Eucaristia que os que creem em Cristo celebram cotidianamente, desde aquele ‘primeiro dia da semana’, quando o Senhor apareceu vivo aos apóstolos por diversas vezes. Cada Missa é renovação daquilo que, por místico e divino, não está preso nem ao espaço e nem ao tempo: a vida, a morte e a ressurreição de Cristo.

É efeito da ressurreição o ato da instituição do sacramento da reconciliação, quando Jesus, naquele mesmo dia, visita os Apóstolos fechados no Cenáculo por medo dos judeus, e lhes diz: “A paz esteja convosco… Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados serão perdoados, àqueles a quem os retiverdes, eles serão retidos” (Jo 20, 22-23). Tal gesto marca a liturgia do segundo domingo da Páscoa, quando se lê este trecho do evangelho, distinguindo a data com o título de Domingo da Misericórdia.

É também efeito da ressurreição o aumento da fé, visualizada na experiência de São Tomé que não acreditou no testemunho dos discípulos sobre a ressurreição de Cristo. O Senhor, paciente e bondosamente, comparece, oito dias depois, no mesmo lugar, para dar ao Apóstolo incrédulo a certeza da sua revitalização, pedindo–lhe que tocasse com sua mão as suas chagas. “Não sejas incrédulo, Tomé, mas tenha fé… Creste porque me viste? Bem-aventurados os que creem sem terem visto” (cf Jo 20, 24-29).

Os efeitos da ressurreição agem também nos discípulos que passaram a ter consciência de partilha e de desapego das coisas materiais, ao ponto de repartirem todos os seus bens com os demais membros da comunidade, não havendo mais pobres entre eles, como está escrito: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava suas as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum” (At 4, 32).

Por fim, o efeito maior da ressurreição é a certeza de que a vida não termina com a morte, e nem se definha com a sepultura, pois fomos criados não para morrer, mas para viver eternamente na casa do Pai, onde reinam a felicidade plena e a paz perpétua.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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