Misericórdia, centro da Páscoa

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Quando o Senhor deixou o seu testemunho de amor aos seus discípulos, quis também compartilhar com eles seu único e eterno sacerdócio. Ele o fez por amor ao seu rebanho e por misericórdia aos que escolheu. Aos doze que selecionou entre centenas de outros seguidores ele ofereceu o pão e o vinho não só como alimento, mas também como missão sagrada de reparti-los, transformando-os misticamente em seu corpo e sangue, a todos os pósteros que haveriam de crer. “Fazei isto em memória de mim” é seu mandato de amor, afim de que a comunidade dos fiéis nunca ficasse privada de sua presença e nunca sentisse fome na caminhada da história tantas vezes cruel para os que creem. Também isto é gesto de misericórdia! Neste Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, é imperioso relacionar o tema do sacerdócio cristão a esta virtude que nasce do coração de Deus e se espalha pelos corações dos homens e das mulheres. Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso: eis o lema que nos é proposto para vivência no ano corrente.

Lendo os vários textos do Papa Francisco, sobretudo a bula “Misericordiae Vultus” com a qual abre o Ano da Misericórdia no mundo inteiro, e o livro “O Nome de Deus é Misericórdia”, observamos que o tema da misericórdia abrange três grupos, dois positivos e um negativo. O primeiro é relacionado aos sofredores do corpo, aos pequenos, aos pobres, aos fracos, aos famintos e outros que vivem em penúrias. O segundo grupo diz respeito ao perdão para com os que os ofendem, e que estão arrependidos. A Pedro diz Cristo: é preciso perdoar setenta vezes sete. Ter paciência com os que nos interpretam mal, que espalham maledicências contra nós, que nos molestam com críticas e outras atitudes incômodas. Ser misericordiosos até com os que, por dever, temos que corrigir ou punir com a lei.

A terceira situação frente à virtude da misericórdia correspondente àqueles que recusam a misericórdia e não se convertem. Como exemplos, citemos o irmão mais velho da parábola do Filho Pródigo (Lc 15, 11-32) que se recusou a entrar na festa por não aceitar a misericórdia do Pai bondoso; e ainda o mal ladrão que, no Calvário, insultava a Cristo, em contraposição ao bom ladrão que, humildemente suplica perdão ao mestre da Misericórdia. Neste aspecto, Papa Francisco se refere ainda à classe dos que se deixam manchar pela corrupção, afirmando: a corrupção é o pecado que, em vez de ser reconhecido como tal e de nos tornar humildes, é transformado em sistema, torna-se um hábito mental, um modo de viver. Não nos sentimos mais necessitados de perdão e misericórdia, mas justificamos a nós mesmos e aos nossos comportamentos. Jesus diz aos seus discípulos: se alguém te ofende 7 vezes ao dia, e 7 vezes volta a te pedir perdão, perdoa-lhe. O pecador arrependido, que depois cai e recai no pecado por causa de sua fraqueza, encontra novamente perdão, desde que se reconheça necessitado de misericórdia. O corrupto, ao contrário, é aquele que peca e nãos e arrepende, aquele que peca e finge ser cristão, e com a sua vida dupla provoca escândalo. O corrupto não conhece a humildade, não se sente necessitado de ajuda, leva a sua vida dupla. (O Nome de Deus é Misericórdia, Editora Planeta, pág. 117-119). Certamente tais palavras do Sucessor de Pedro têm grande significação para o povo brasileiro, nesta hora de grande crise política, econômica e moral de nosso país.]

Os sacerdotes instituídos por Cristo à véspera de sua morte na cruz, são ministros da Misericórdia, para perdoar e para corrigir, mas também são chamados a buscar a santidade pessoal a cada dia, na humildade e no perpétuo estado de conversão. São também enviados a colaborar com um mundo mais justo, mais fraterno, mais leal. Todos os seguidores de Cristo são ministros da misericórdia, da opção pela lealdade, unidos pelo fim da corrupção que degenera a dignidade humana e avilta os que foram criados à imagem de semelhança de Deus. Somos, na Páscoa, impelidos pela busca de um mundo melhor, mais justo e mais pacífico, mais honesto. Para isto o Senhor deu sua vida e ressuscitou nos garantindo que quem a ele segue, não será decepcionado.

Feliz Páscoa!
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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