De onde veio o homem? Das mãos de Deus ou da evolução das espécies? Posso acreditar no criacionismo? Estaria eu certo de aceitar a teoria do evolucionismo? Essas são algumas perguntas postas não só nas salas de aula de nossas escolas, mas está presente em muitos ambientes.
A teoria do evolucionismo é baseada nos estudos de Charles Robert Darwin publicados em 1859 no seu livro The Origien of Species, após as pesquisas de Jean Baptiste Lamarck, no século anterior, colocadas a lume em sua obra Philosophie Zoologique, em 1809. Posterior a Darwin, vários outros estudos já avançaram, seja ampliando as pesquisas seja corrigindo erros darwinianos, dando origem ao neodarwinismo. Um dos mais famosos cientistas do ramo foi August Weismann com suas descobertas sobre as células germinais e somáticas.
Uma pergunta que se tem feito é se a teoria evolucionista coloca em xeque a Bíblia com suas informações criacionistas. Essa questão intrigou a mente de muita gente e colocou em confusão religiosos de várias crenças e a homens de ciências. Mas, podemos, sem medo e sem dúvidas, afirmar que não há incompatibilidade entre ambas.
De princípio, deve ficar claro que a Bíblia não quer ensinar ciência, mesmo que alguns de seus dados sejam úteis às pesquisas científicas, sobretudo históricas, e nem deseja a Bíblia obstaculizar a pesquisa científica, desde que éticas. A função da Bíblia é outra. Trata de mística, da ação de Deus, princípio de toda vida, criador de todas as coisas, mas a questão do como, com que método Deus fez e faz isto, pode ser aberta a novas descobertas. A linguagem bíblica é simbólica e, muitas vezes, figurativa. Ela trata do elemento fé e dá as bases para que o homem viva na fé que, além de não contradizer a ciência, complementa o homem. É sempre bom também não divinizar a ciência, porque ela é passível de erros e está sempre sujeita a revisões, evoluções e correções. João Paulo II já havia escrito uma encíclica com o título Fides et Ratio (Fé e Razão), na qual demonstra que a razão e a fé são como as duas asas de um condor, necessárias para voar e adquirir altura.
Em sua homilia da noite pascal de 2006, o Papa Bento XVI, hoje emérito, se refere positivamente sobre os efeitos da ressurreição para toda a humanidade, afirmando que a ressurreição foi como um estouro de luz, uma explosão do amor que desatou o vínculo até então indissolúvel do “morrer e devir”. O Pontífice demonstra como a ressurreição de Cristo inaugurou uma nova dimensão do ser, da vida, na qual também foi integrada a matéria, de uma maneira transformada, e através da qual surge um mundo novo. Sobre a perpetuidade da ressurreição de Cristo, orienta: está claro que este acontecimento não é um milagre qualquer do passado, cuja realização poderia ser no fundo indiferente para nós. Mas, na verdade trata-se de um salto qualitativo na história da «evolução» e da vida em geral para uma nova vida futura, para um mundo novo que, partindo de Cristo, entra já continuamente neste mundo nosso, transforma-o e o atrai para si.
Podemos compreender que, assim como em algum momento houve um salto de qualidade que fez os humanos passarem do mundo irracional para o racional, será fácil entender que, necessariamente, haverá o momento em que um salto mais definitivo levará o homem a uma vida completamente nova e duradoura. Isto é plano de Deus extremamente amoroso para com a pessoa humana, sua imagem e semelhança aqui e na eternidade.
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora