A Misericórdia que traz alegria

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“Alegrai-vos no Senhor, repito alegrai-vos, pois o Senhor está bem perto” (Fil. 4,4).

Com estas palavras o Apóstolo Paulo, escrevendo da prisão, animava a comunidade de Filipos, a esperar a vinda do Senhor. Falava da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos, mas, certamente, também das vindas do Senhor no dia a dia, pois Ele vem a nós de várias maneiras no decurso de nossa vida. Filipos era uma comunidade muito querida por São Paulo, pois foi a primeira comunidade que ele fundou no território europeu e lhe era muito fiel na observância dos seus ensinamentos.

No 3º Domingo do Advento, celebramos o Domingo da Alegria. O Senhor está perto. Logo chegará o Natal do Menino Jesus, Salvador. As profecias de Sofonias e a referida Carta de Paulo aos Filipenses são carregadas de sentimentos de exultação que vem da esperança que está para se realizar por intervenção amorosa de Deus.

No 3º Domingo do Advento deste corrente ano, também, para alegria de todos os cristãos, em todas as Catedrais do mundo, abrem-se as Portas Santas da Misericórdia, fato inédito trazido pela caridade do Papa Francisco que quer ver a misericórdia transformar-se em paz, em perdão, em amor para todo o mundo hodierno, “este mundo com tantas esperanças e tantas contradições” (MV 1).

A Igreja é a grande anunciadora da Misericórdia. A Misericórdia traz alegria ao coração, pois a Misericórdia é o rosto de Jesus que chega no Natal, como afirma o Sucessor de Pedro na abertura da Bula Misericordiae Vultus: “Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. O mistério da fé cristã parece encontrar nestas palavras a sua síntese. Tal misericórdia tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus de Nazaré. (MV 1),

No evangelho deste 3º Domingo do Advento, contemplamos a missão de São João Batista ao anunciar a chegada do Salvador. Cristo já havia nascido, quando Batista pregou nos desertos da Judéia e à beira do Rio João, preparando os caminhos do Senhor, mas é a partir do batismo pregado por João que Ele inicia a sua vida pública.

Respondendo a pergunta das multidões, O que devemos fazer, João Batista responde com indicação de obras de misericórdia: Quem duas túnicas, dê uma para quem não tem nenhuma, e quem tiver comida, faça o mesmo (Lc 3, 10). As palavras do Precursor nos remetem às obras de Misericórdia contidas no evangelho de São Mateus: Tive fome e me destes de comer, tive sede em destes de beber, estava nu e me vestistes… (cf. Mt 25, 35 s)

Aprendamos com João Batista que Misericórdia se pratica com humildade, pois o orgulhoso, o egoísta, o vingativo, nunca consegue ser misericordioso. Por isso, ao ser interrogado se era ele o Messias, respondeu humildemente: Não sou. Ele é muito maior do que eu. Nem sou digno de desamarrar as correias de suas sandálias. Eu vos batizo com água, Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo. (cf. Lc 3, 16)

Aos publicanos e aos soldados, ele mostra que, no caminho do Messias, não cabem corrupção, exploração, roubo. Não cobreis mais do que o estabelecido; não maltrateis a ninguém, não façais denúncias falsas e contentai-vos com o vosso soldo” (cf. Lc 3, 10 ss). Todas estas práticas aqui condenadas são o inverso da misericórdia sicut Pater.

Também o Papa Francisco, na mencionada Bula, fala algumas vezes da alegria de quem pratica a misericórdia, segundo o Pai, como por exemplo, no seguinte trecho: “Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem (MV 2).

Origem e desenvolvimento dos Anos Santos

O costume de celebrar o Ano Santo tem origem na Bíblia, especificamente no Livro do Levítico, capítulo 25, que estabelece o Jubileu de perdão e justiça. Lá se celebrava o Ano Sabático de 50 em 50 anos, com perdão das dívidas e o retorno das propriedades para o antigo dono.

Na era cristã, a Igreja vem cumprindo este belo costume, agora sob a luz de Cristo Redentor, e passou a celebrá-lo de 25 em 25 anos, para melhor significar a extraordinária bondade de Deus, dando assim oportunidade a cada geração de celebrá-lo ao menos uma vez. Assim o cristão é perdoado de suas dívidas espirituais para com Deus e para com os irmãos, e pode voltar à sua primeira condição da inocência batismal, após receber a indulgência plenária.

O Ano Santo é um convite à conversão contínua, vencendo o pecado e renovando nossa vocação à santidade, nossa adesão inteira, de alma e de mente, à Salvação trazida por Jesus, o Filho de Deus Encarnado. Para isso a Igreja nos oferece um caminho de penitência e oração que constitui, em algumas práticas de espiritualidade, através das quais, se obtêm, da generosa benignidade de Deus, a indulgência plenária para nós e para os mortos, segundo a intenção do fiel.

Como símbolo visível, e sensível, da disposição sincera de conversão, o fiel passa pela Porta Santa, entrando assim num caminho novo, purificado pela indulgência que lhe restitui a condição inicial do Batismo. Não há nada de mágico nisto, mas muito de simbólico. A porta é, na verdade, imagem de Cristo, que afirmou: “Eu sou a porta das Ovelhas; quem entrar por mim será salvo” (Jo. 10, 9).

Por ocasiões especiais, os Papas têm convocado Anos Santos Extraordinários, como oportunidade de transformação de vida, dos costumes e da prática das boas obras.

O Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, explicou o Papa Francisco, “é um tempo favorável para todos nós, fazendo-nos contemplar a Misericórdia Divina que ultrapassa todo e qualquer limite humano e consegue brilhar no meio da obscuridade do pecado, para nos tornarmos suas testemunhas convictas e persuasivas”.

O Ano Santo Extraordinário da Misericórdia teve início no dia 8 de dezembro e se concluirá no dia 20 de novembro de 2016, Domingo de Cristo Rei do Universo, quando o Papa fechará a Porta Santa da Basílica de São Pedro, em Roma. Nas dioceses, as Portas da Misericórdia serão fechadas no anterior dia 13 de novembro.

Na Arquidiocese de Juiz de Fora

Na Arquidiocese de Juiz de Fora, determinamos a abertura de quatro portas santas, em sintonia e ressonância com as quatro basílicas romanas (São Pedro, São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Extra-Muros). As nossas Portas Santas encontram-se, a primeira, na Catedral Metropolitana, em Juiz de Fora; a segunda, no Santuário do Bom Jesus do Livramento, na cidade de Liberdade, centro de grandes peregrinações; a terceira, na Matriz de Santa Rita de Jacutinga, paróquia regida por muitos anos pelo virtuoso Monsenhor Marciano, cuja causa de canonização está em andamento em nossa Arquidiocese; e a quarta, no Santuário de Nossa Senhora das Mercês, em Mar de Espanha, destacando neste a bonita referência feita pelo Papa a Maria, ao final da bula Misericordiae Vultus.

Para maior solenidade, embora se considere o Domingo da Alegria como dia de abertura de todas as portas, serão feitas celebrações presididas pelo Arcebispo, nos dias 14, no Santuário do Bom Jesus do Livramento; dia 22, na Matriz de Santa Rita de Jacutinga; dia 27, no Santuário de Nossa Senhora das Mercês, em Mar de Espanha. Tal iniciativa pretende fazer ressoar os sentimentos do coração de Papa Francisco que tem sugerido não restringir nossas atenções apenas aos centros urbanos, mas olharmos também para as periferias. Dada a grande extensão geográfica de nossa Arquidiocese, desejamos oferecer aos homens e mulheres das várias regiões do interior, às vezes tão longínquas da Catedral, oportunidade de celebrar o Ano Santo da Misericórdia com mais facilidade e frequência.

O que fazer para obter a indulgência plenária

Para obter indulgência, é necessário que o fiel, movido por sincera conversão, cumpra as orientações da Igreja para estas ocasiões, peregrinando a um destes lugares, passando contritamente por uma destas portas. Os fiéis são chamados a fazer sua Confissão Sacramental, a recitar o Creio em Deus Pai, renovando sua fé em Cristo e na Igreja, a rezar o Pai Nosso, três Ave Marias e o Glória ao Pai nas intenções do Papa, e participar da Santa Missa, fazendo sua Comunhão Eucarística. Não há necessidade de se fazer estes atos de piedade no mesmo dia da peregrinação, mas podem ser feitos nos dias anteriores, no máximo 30 dias antes. A celebração Eucarística, contudo, é recomendável que, preferencialmente, seja participada no dia da conclusão da peregrinação.

É sem dúvida maravilhosa a decisão do Papa Francisco de estabelecer outras modalidades de Portas Santas, para os que se encontram em situações especiais. Por exemplo, lucram as mesmas indulgências, os prisioneiros que cumprirem as condições estabelecidas, e passarem contritamente a porta de sua própria cela, transformando-a, assim, em Porta Santa. Também os doentes, podem apenas passar mentalmente pela Porta Santa, e fazerem suas orações e recebendo os sacramentos no seu leito de dor. O mesmo se dá com as pessoas idosas que não podem sair de casa, lucrando indulgências apenas pela oferenda de sua solidão, rezando em sua residência.

Enfim, o Papa indica como exercício prático para o Ano da Misericórdia, a observância contínua das Obras de Misericórdia, Corporais e Espirituais, contidas no Catecismo da Igreja Católica, baseadas todas na Sagrada Escritura, sobretudo no já mencionado capítulo 25 do Evangelho de São Mateus. Estes termos encontram-se facilmente pela internet e podem ser consultados para orientação na prática da espiritualidade do ano santo que estamos iniciando.

Vivamos intensamente este Ano Santo Extraordinário, fazendo da misericórdia o motivo central de nossa vida, e veremos como Deus nos tornará mais leves e mais felizes, pois, de fato, praticar a misericórdia nos liberta, nos ajuda a reconhecer a bondade infinita da Trindade Santíssima, que deseja que sejam os homens de todos os tempos iluminados pela a alegria que vem do alto. Alegremo-nos no Senhor, pois Ele está bem perto!

Dom Gil Antônio Moreira

Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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