O desafio da natalidade é uma questão de esperança, afirma Papa

Foto: Bruna Bruna por Pixabay
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O Papa Francisco participou, nesta sexta-feira (12), no Auditório da Conciliação, em Roma, do encontro conclusivo da 3ª edição dos Estados Gerais da Natalidade, um evento promovido pelo Fórum das Associações Familiares, dedicado ao destino demográfico da Itália e do mundo, que reúne expoentes da política, das empresas, dos bancos, do esporte, do entretenimento e do jornalismo.

Segundo Francisco, “o nascimento dos filhos é o principal indicador para medir a esperança de um povo. Se nascem poucos, significa que há pouca esperança. E isto não só tem repercussões do ponto de vista econômico e social, mas prejudica a confiança no futuro”.

Constituir família está se transformando num esforço titânico

No ano passado, a Itália atingiu o menor número de nascimentos de todos os tempos: apenas 393 mil recém-nascidos.

É um fato que revela grande preocupação com o amanhã. Hoje, colocar filhos no mundo é visto como uma tarefa a ser assumida pela família. Isso, infelizmente, condiciona a mentalidade das novas gerações, que crescem na incerteza, quando não na desilusão e no medo. Vivem num clima social em que constituir família está se transformando num esforço titânico, ao invés de um valor compartilhado que todos reconhecem e apoiam. Sentir-se sozinho e obrigado a confiar exclusivamente nas próprias forças é perigoso: significa desgastar lentamente a vida comum e resignar-se a existências solitárias, nas quais cada um tem que fazer por si. Com a consequência de que apenas os mais ricos podem, graças aos seus recursos, ter maior liberdade para escolher que forma dar à sua vida. E isso é injusto, além de humilhante.

Carreira e maternidade

A seguir, Francisco disse que “talvez nunca como neste tempo, entre guerras, pandemias, deslocamentos em massa e crises climáticas, o futuro pareça incerto. Tudo passa rápido e até as certezas adquiridas passam rápido. Com efeito, a velocidade que nos rodeia aumenta a fragilidade que carregamos dentro de nós. E neste contexto de incerteza e fragilidade, as novas gerações experimentam um sentimento de precariedade, de tal forma que o amanhã parece uma montanha impossível de escalar”.

Dificuldade em encontrar trabalho estável, dificuldade em mantê-lo, moradias muito caras, aluguéis altos e salários insuficientes são problemas reais. São problemas que desafiam a política, porque está à vista de todos que o mercado livre, sem as indispensáveis ​​medidas corretivas, torna-se selvagem e produz situações e desigualdades cada vez mais graves. E para descrever o contexto em que nos encontramos, penso numa cultura que não é amiga, senão inimiga, da família, centrada nas necessidades do indivíduo, onde direitos individuais contínuos são reivindicados e os direitos da família não são mencionados. Em particular, existem condicionamentos quase intransponíveis para as mulheres. As mais prejudicadas são elas, mulheres jovens muitas vezes obrigadas a escolher entre carreira e maternidade, ou esmagadas pelo peso de cuidar de suas famílias, principalmente na presença de idosos frágeis e pessoas não autônomas.

Políticas voltadas para o futuro

“São necessárias políticas voltadas para o futuro”, frisou o Papa. “É preciso preparar um terreno fértil para florescer uma nova primavera e deixar este inverno demográfico para trás. E, dado que o terreno é comum, a sociedade e o futuro, é preciso enfrentar o problema juntos, sem barreiras ideológicas e posições pré-concebidas. É verdade que, também com a ajuda de vocês, muito foi feito e estou muito grato por isso, mas ainda não é o suficiente. É necessário mudar a mentalidade: a família não é parte do problema, mas parte da solução.” E Francisco perguntou: “Há alguém que saiba olhar adiante com a coragem de apostar nas famílias, nas crianças, nos jovens?”

Segundo o Pontífice, “não podemos aceitar que nossa sociedade deixe de ser generativa e se degenere em tristeza. Uma comunidade feliz desenvolve naturalmente o desejo de gerar e integrar, enquanto uma sociedade infeliz se reduz a uma soma de indivíduos que buscam defender a todo custo o que têm”.

A esperança gera mudança e melhora o futuro

O Papa, concluiu o seu discurso, destacando a palavra esperança. De acordo com ele, “o desafio da natalidade é uma questão de esperança”, mas, “a esperança não é, como muitas vezes se pensa, otimismo, não é um vago sentimento positivo sobre o futuro. Não é ilusão ou emoção. É uma virtude concreta e tem a ver com escolhas concretas. Alimentar a esperança é uma ação social, intelectual, artística, política no mais alto sentido da palavra. É colocar as próprias capacidades e recursos a serviço do bem comum, é semear o futuroA esperança gera mudança e melhora o futuro. A esperança nos chama a buscar soluções que deem forma a uma sociedade à altura do momento histórico que vivemos, um tempo de crises atravessado por tantas injustiças”.

Dar novamente impulso à natalidade significa reparar as formas de exclusão social que afetam os jovens e o seu futuro. É um serviço para todos: os filhos não são bens individuais, mas pessoas que contribuem para o crescimento de todos, trazendo riqueza humana e geracional. A vocês que estão aqui para encontrar boas soluções, fruto de seu profissionalismo e de suas competências, eu gostaria de dizer: sintam-se chamados para a grande tarefa de regenerar a esperança, de iniciar processos que deem impulso e vida à Itália, à Europa, ao mundo.

Fonte: Site Vatican News

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