No Dia de Finados, milhares de pessoas vão aos cemitérios orar pelos seus entes queridos, que ali estão sepultados. É um dia também de celebrar a esperança na vida eterna. Com a proximidade da data, muitos fiéis param para refletir sobre a morte e podem manifestar o desejo de que seu corpo seja reduzido a cinzas. Porém, muitos familiares possuem dúvidas de como proceder ou de como a Igreja Católica lida com a questão da cremação.
A recomendação é de que seja mantido o costume de sepultar os corpos dos falecidos, mas a cremação não é proibida, desde que essa escolha não seja feita por razões contrárias à fé na ressurreição dos corpos. Conforme orientações do Vaticano, as cinzas não devem ser mantidas em casa, nem mesmo espalhas por jardins, rios, mares, etc. A Igreja recomenda que a urna com as cinzas seja levada ao cemitério ou a um columbário (local especial para depósito de urnas, que geralmente fica nos cemitérios).
O escritor Luís Eugênio Sanábio e Souza escreveu um artigo sobre o assunto. Confira:
A Igreja diante da cremação
Seguindo a antiga tradição cristã, a Igreja Católica recomenda insistentemente que os corpos dos defuntos sejam sepultados no cemitério ou num lugar sagrado. A sepultura dos corpos nos cemitérios ou em outros lugares sagrados favorece a memória e a oração pelos mortos da parte dos seus familiares e de toda a comunidade cristã, assim como a veneração dos santos. A Igreja opõe-se à tendência a privatizar e a esconder o acontecimento da morte e o significado que ela tem para os cristãos. Graças a Cristo, a morte cristã tem um significado positivo e para ressuscitar com Cristo, é necessário morrer com Cristo.
Onde por razões econômicas ou de higiene se escolhe a cremação, a Igreja não proíbe tal prática, a não ser que tenha sido escolhida por motivos ou concepções contrárias aos dogmas cristãos. Vale lembrar que a Igreja rejeita as concepções panteístas, naturalistas e niilistas. Segundo a legislação canônica, devem ser negadas as exéquias eclesiásticas (cerimônias fúnebres) aos que tiverem escolhido a cremação de seu corpo por motivos contrários à fé cristã (Cânon 1184).
Uma vez que a cremação do cadáver não destrói a alma e não impede o poder divino de ressuscitar o corpo, a cremação por si só não implica a negação da doutrina cristã sobre a imortalidade da alma e da ressurreição dos corpos. Para evitar qualquer tipo de equívoco panteísta, naturalista ou niilista, a Igreja não permite a dispersão das cinzas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar. Exclui-se, ainda, a conservação das cinzas cremadas em casa e sob a forma de recordação comemorativa em peças de joalharia ou em outros objetos. Quaisquer que sejam as motivações legítimas que levaram à escolha da cremação do cadáver, as cinzas do defunto devem ser conservadas, por norma, num lugar sagrado, isto é, no cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou num lugar especialmente dedicado a esse fim determinado pela autoridade eclesiástica.
“Enterrando os corpos dos fiéis defuntos, a Igreja confirma a fé na ressurreição da carne, e deseja colocar em relevo a grande dignidade do corpo humano como parte integrante da pessoa da qual o corpo condivide a história. Não pode, por isso, permitir comportamentos e ritos que envolvam concepções errôneas sobre a morte: seja o aniquilamento definitivo da pessoa; seja o momento da sua fusão com a Mãe natureza ou com o universo; seja como uma etapa no processo da reencarnação; seja ainda, como a libertação definitiva da ‘prisão’ do corpo” (Vaticano: Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Ad resurgendum cum Christo nº 7).
A Igreja continua a preferir a sepultura dos corpos uma vez que assim se evidencia uma estima maior pelos defuntos.