Depois de 11 anos fechada, Igreja Nossa Senhora do Livramento, em Sarandira, passa por obras de restauração

A comunidade do Distrito de Sarandira está mais próxima de voltar a celebrar em sua Igreja Matriz. O templo, datado do final do século 19 e que é tombado pelo município de Juiz de Fora desde 2004, está fechado há mais de dez anos em razão de problemas estruturais e passa por intervenções desde abril deste ano.

A Igreja Nossa Senhora do Livramento foi interditada em 2011, quando apresentava condições críticas, estruturalmente e esteticamente, estando com fissuras, madeiramento comprometido e pinturas bastante danificadas. Três anos depois, por iniciativa do então Pároco, Padre Liomar Rezende de Moraes, a Arquidiocese de Juiz de Fora firmou uma parceria com o curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para a formatação de quatro projetos de extensão com o objetivo de desenvolver um plano básico de restauração arquitetônica. Eles foram finalizados em 2015, mas apenas o projeto estrutural, doado pelo engenheiro Antônio Francisco de Souza Cardoso, estava pronto.

Antes mesmo da entrega das propostas, especialistas em estruturas contratados pela comunidade sugeriram algumas medidas de urgência, entre elas, o escoramento da igreja, o que aconteceu entre o final de 2015 e o início de 2016. Ao mesmo tempo, foram compatibilizados os projetos complementares – hidráulico, elétrico e luminotécnico – e realizado o levantamento topográfico do imóvel. Os trabalhos ficaram paralisados até 2019, quando foi retomada a proposta de restauração e reabilitação da Matriz, finalizada em outubro de 2020. No ano seguinte, foi entregue o projeto do Sistema de Proteção Contra Descargas Atmosféricas (SPDA).

Depois de oito anos do início dos esforços em prol da Matriz Nossa Senhora do Livramento, os projetos Arquitetônico, Estrutural, Hidrossanitário, Elétrico, SPDA e Bens Integrados foram apresentados ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (COMPPAC), órgão responsável pela avaliação e aprovação dos planos relacionados aos bens tombados em Juiz de Fora. O alvará correspondente ao projeto estrutural da igreja foi concedido em março de 2022, sendo as obras iniciadas em 4 de abril, sob a supervisão do engenheiro Antônio Francisco de Souza Cardoso. O profissional, que tem amplo conhecimento em madeira, além de doar o projeto de restauração estrutural, ofereceu o trabalho técnico como engenheiro responsável pela execução da obra.

“A Matriz encontrava-se muito deteriorada devido à ação do tempo e por ataque de cupins e outros insetos, sem contar as inúmeras intervenções mal executadas que colocaram em risco a sua estabilidade. O escoramento foi feito em 2015, mas não foi completo, ficando o telhado da nave sujeito a deslocamento horizontal em direção ao arco cruzeiro [arco que separa a nave da capela-mor]”, relata Antônio. O engenheiro conta ainda que a primeira etapa da obra foi a recuperação das fundações do templo. “Passo muito importante e que poucos viram, pois fica para baixo do solo. O segundo passo foi a recuperação das colunas internas da nave e as vigas de sustentação do piso das tribunas. Depois, foi demolida a empena frontal da nave e refeita para dar início à restauração do telhado da nave, sendo retiradas as telhas com muito cuidado para diminuir perdas.”

Em setembro deste ano, Antonio teve que deixar a obra por problemas particulares. Desde então, os processos foram assumidos pelo engenheiro Ricardo Luis Pires Guerrero, da CT&G Projetos e Construções. Com as fundações e pilares do primeiro pavimento recuperados, agora o trabalho se dá no segundo andar da igreja, nas galerias e no telhado. “Como é uma obra de restauro, de recuperação de estrutura, em cada mexida feita encontra-se uma coisa que a gente não tem conhecimento”, aponta Ricardo. O engenheiro lembra que, como se trata de um bem tombado, os materiais não podem ser substituídos, mas somente reforçados. “Isso é uma dificuldade, porque nós temos técnicas novas, modernas, com as quais poderíamos fazer uma recuperação mais simples e mais rápida. Mas justamente por ser um patrimônio histórico cultural nós temos que manter o máximo das características da época. Toda substituição nós estamos fazendo com utilização de técnicas e materiais que eram usados anteriormente.”

Considerando possíveis imprevistos, a expectativa é de que em quatro meses esta primeira fase da obra seja finalizada. As próximas etapas compreenderão a troca dos revestimentos internos e externos, pintura interna e externa e adequações dos banheiros. Depois, começa a fase de restauração dos altares e pintura do arco cruzeiro, bem como outros elementos indicados no projeto arquitetônico.

Financiamento das obras

O envolvimento dos moradores de Sarandira com a Igreja Nossa Senhora do Livramento pode ser dimensionado pela sua ação na reconstrução da parede lateral, que ruiu na década de 1970. Mais recentemente, desde 2011, quando foi necessária a descupinização geral das estruturas de madeira do templo, a comunidade foi a responsável por financiar as intervenções necessárias. Cerca de R$ 55 mil reais foram utilizados até 2015, dinheiro angariado por meio de doações de fazendeiros da região e através de eventos beneficentes organizados pelos paroquianos.

Após a aprovação do COMPPAC, o início da execução do projeto estrutural, orçado em R$ 300 mil, se deu com recursos da Paróquia Nossa Senhora do Livramento e aporte da Arquidiocese de Juiz de Fora. “A comunidade fez um investimento inicial a partir dos movimentos que há anos vem realizando, como a festa dedicada à Nossa Senhora do Livramento. Agora, a Mitra Arquidiocesana de Juiz de Fora fará um empréstimo à comunidade para dar continuidade. Estamos buscando manter esse orçamento, mas acreditamos que talvez não seja suficiente”, explica o Ecônomo da Cúria Metropolitana, Padre Liomar Rezende de Moraes.

Para a continuidade das obras, inclusive para as fases seguintes no processo de recuperação e restauração da igreja, uma das alternativas é angariar recursos através das leis de incentivo à cultura. “O Fundo Municipal de Proteção ao Patrimônio Cultural (FUMPAC) foi sancionado em junho de 2020, em Juiz de fora, em prol da preservação, manutenção e conservação do patrimônio cultural local. Nossa esperança é que o Poder Público, enquanto órgão tombador, comece a contribuir com a obra, que até agora contou somente com recursos particulares”, ressalta a membra da Comissão Arquidiocesana de Bens Culturais e Assessora Patrimonial da Mitra, Raquel Cristina de Souza Tostes.

A vida espiritual não pode parar

*Altar-Mor, feito de alvenaria, foi usado para celebrações a pedido da comunidade, a partir de 2017

Mesmo com o fechamento da Matriz Nossa Senhora do Livramento há mais de dez anos, os sarandirenses não deixaram de exercer a sua fé: desde então, os fiéis se reúnem para missas mensais no salão comunitário do distrito ou na parte externa da igreja, que está liberada para uso. Em 2017, a partir de uma demanda da comunidade, foi liberada, através de laudo técnico do engenheiro Antônio Cardoso, a utilização da Capela-Mor e da Sacristia. Essas áreas foram consideradas livres de riscos para os paroquianos por terem sido construídas mais recentemente.

“A gente pagou todo o material para isolar a parte velha da parte de alvenaria e fazer toda a instalação elétrica independente. Com a aprovação da reforma, nós tivemos uma festa maravilhosa, recebendo a Padroeira de volta”, conta Eleika Furtado Rodrigues, que foi coordenadora da paróquia por 26 anos. Ela também lembra que, com o fechamento da igreja, a imagem de Nossa Senhora do Livramento e o crucifixo do altar-mor foram transferidos para Pequeri (MG), município ao qual a paróquia é ligada pastoralmente.

*Dom Gil visitou as obras no dia 5 de outubro, acompanhado de Padre Liomar, Pade José Custódio e do engenheiro Ricardo

O Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira, observa que o objetivo das obras é o de preservar o prédio, que possui belos elementos artísticos, para servir melhor à comunidade. “A igreja existe não para ser um museu; existe para ser um templo onde a comunidade se reúne. Claro que os elementos artísticos precisam ser preservados, até porque a Igreja valoriza muito a arte, mas o templo religioso existe, sobretudo, para que a comunidade possa se reunir, rezar em um lugar seguro e belo.”

O Administrador Paroquial, Padre José Custódio de Oliveira, chegou à paróquia há cerca de dois meses, mas já enxerga na comunidade a esperança de, em breve, voltar a celebrar em sua Matriz. “O povo, com a graça de Deus, tem essa esperança de brevemente – esse breve só Deus sabe quando – poder aqui celebrar. Pela intercessão de Nossa Senhora da Glória, nós continuamos nessa busca de recursos através de doações, para que possamos dar prosseguimento às obras.” Atualmente, as Missas em Sarandira acontecem no primeiro domingo do mês, às 10h.

Tombamento

A Igreja Nossa Senhora do Livramento foi tombada em nível municipal através do Decreto nº 8.437 de 28 de dezembro de 2004. O texto aponta, como justificativa para o tombamento, “o valor histórico e cultural” do templo, cuja composição interna e externa “segue a tipologia da arquitetura religiosa mais simples, com nave, capela-mor e torre sineira central”.

Pelo decreto, estão preservadas as fachadas do imóvel, sua volumetria construtiva, seu interior, composto de altar-mor, altares colaterais e laterais, coro, galerias e a pintura sobre o arco cruzeiro, que liga a nave à capela-mor.

Clique aqui e confira outros registros das obras na Matriz de Sarandira.

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