Dentro do Mês Vocacional, no terceiro domingo de agosto, a Igreja no Brasil celebra a vocação à vida religiosa e consagrada. É tempo de valorizar homens e mulheres que, chamados por Deus, consagram inteiramente sua vida ao serviço do Reino. Entre esses testemunhos está o de Madre Paulina, pmPN, do Monastério Santa Maria Mãe de Deus, da Obra dos Pequenos Monges do Pater Noster, em Juiz de Fora.
Natural de Caicó, no Rio Grande do Norte, Madre Paulina vive há 38 anos na vida consagrada, marcada pela clausura e pelo serviço silencioso. O desejo inicial de ser médica — inspirado pela experiência como técnica de enfermagem e pela compaixão por pacientes terminais — parecia definir seu futuro. Porém, no último ano do ensino médio, um chamado inesperado mudou o rumo. “O chamado é como a conversão. Você vai seguindo sua vida normalmente e, de repente, dá uma volta. Deus estava me chamando […] Não é uma voz, é na inteligência e no coração, só a gente escuta”, afirma.
No início, acreditou que poderia unir profissão e vocação, servindo em uma congregação que atuasse em hospitais. Mas a vontade de Deus era outra. “Eu estava escolhendo o lugar que eu queria e Deus disse ‘não’… Ele queria a clausura. Eu lutei muito, mas um dia perguntei: ‘Por que o Senhor me quer na vida religiosa fechada?’. E ouvi no fundo da alma: ‘Eu lhe quero médica das almas, não dos corpos”, conta.
Essa resposta mudou tudo, mas trouxe também desafios. A família, especialmente o pai, não aceitou a decisão. Entrou no convento sem apoio, avisando a família apenas dois dias antes. Para Madre Paulina, essa oposição é, muitas vezes, parte do processo. “A prova da vocação é que todos em volta dizem ‘não’. O chamado é pessoal, só você e Deus. E Ele deixa livre para dizer sim ou não. Mas se você disser ‘amanhã’, dificilmente irá. Quando Jesus chamou os apóstolos, eles deixaram tudo imediatamente”, reflete.
A vida contemplativa, explica, é feita de oração, sacrifício e intercessão, muitas vezes invisíveis. “Posso rezar por uma pessoa que não conheço ou que encontrei uma única vez, e ela nem saberá. Esse é o nosso apostolado: oferecer tudo a Deus, no escondimento”, pontua.
Mas isso não significa ausência de ação concreta. As irmãs da comunidade mantêm um trabalho social com mais de 130 famílias em situação de vulnerabilidade, arrecadando e distribuindo alimentos, roupas e agasalhos, além de organizar ações de apoio a pessoas em situação de rua.

Madre Paulina também acompanha cerca de 18 jovens em discernimento vocacional, orientando-as por meio de grupos de WhatsApp e retiros de silêncio. Hoje, o mosteiro conta com cinco religiosas — duas professas e três noviças, vindas de diferentes regiões do país. Para a Madre, a alegria está em saber que, mesmo após décadas, o “sim” inicial continua vivo. “Se tivesse que começar de novo, começaria mais cedo. A vida religiosa é um despojamento total para encontrar Aquele que é o nosso tudo”, completa.
Para perseverar, segundo ela, é preciso mais do que entusiasmo inicial. “Coragem é o que precisa. E perseverança, porque você tem coragem um dia e no outro não tem. Mas não vale a pena desistir”, reforça.
No Mês Vocacional, seu testemunho recorda que o chamado de Deus não é apenas uma decisão de futuro, mas uma resposta diária. E que, como ela resume, “é mais fácil perder tudo por Ele do que deixar Ele por esse tudo”.
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