A Igreja no Brasil segue celebrando o Mês Vocacional, um tempo especial para refletir sobre os diferentes chamados de Deus e a missão de cada cristão. No segundo domingo, 10 de agosto, a atenção se voltou para a vocação matrimonial, coincidindo com o início da Semana Nacional da Família. Reconhecido como o berço natural das demais vocações, o matrimônio é o ambiente onde a vida é acolhida, a fé é transmitida e o amor de Deus é experimentado no cotidiano.
Em uma sociedade que banaliza os vínculos e relativiza valores, existem casais que optam por nadar contra a corrente — e o fazem com alegria. Dois deles são Henrique Vieira e Jéssica Tiburcio, da Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus, e Alex Ferreira e Daniele Temponi, da Paróquia São Pedro, que partilharam como têm vivido, na prática, essa vocação.
Dois caminhos, uma mesma escolha: seguir com Cristo

Henrique e Jéssica se conheceram em julho de 2008, durante um retiro do Acampamento Juvenil, e um ano depois começaram a namorar. Desde o início, o propósito era claro: caminhar juntos rumo ao matrimônio. Foram sete anos de namoro e dois anos e meio de noivado, tempo que permitiu amadurecer a relação e construir bases sólidas. Casaram-se em dezembro de 2016 e, no início deste ano, receberam o dom da primeira filha, Cecília.
Eles reconhecem no acampamento o papel de despertar e fortalecer valores que hoje sustentam seu lar. “Foi ali que começamos a nos aproximar, mas também a compreender a importância de viver a fé em comunidade. Essa experiência marcou nossa caminhada até o altar”, conta Henrique.
Já Alex e Daniele trilham juntos quase duas décadas de história. Eles se conheceram em 2005, quando ele ainda era protestante, e foi por meio do testemunho de fé de Daniele que Alex retornou à Igreja Católica. A juventude deles também foi marcada por um movimento: o JUDAC (Jovens Unidos Descobrindo o Amor de Cristo), na Paróquia Universitária Nossa Senhora de Fátima. “O grupo nos tirou da superficialidade da fé e nos ajudou a amadurecer espiritualmente e como casal. Sem essa caminhada, talvez não tivéssemos chegado ao matrimônio”, afirma Daniele.
Romper ciclos e construir novas histórias

A trajetória de Alex e Daniele carrega ainda uma decisão profunda: fazer diferente daquilo que viveram em suas famílias de origem. Ele cresceu em um lar marcado pela ausência paterna e pela dependência química do pai, que faleceu cedo. “Sempre tive na cabeça que queria ser um pai e esposo de verdade, ter uma família diferente. Nunca bebi, nunca usei drogas. Peguei as coisas boas que recebi e deletei as ruins. Não acredito que ‘filho de peixe, peixinho é’. A gente pode mudar a história”, afirma.
Daniele compartilha de experiência similar. “Não é porque a minha família foi desestruturada, que a família que vou construir tenha que ser igual. A partir de mim, vai ser bom, vai ser diferente. Erramos às vezes, claro, mas buscamos viver de forma diferente daquilo que recebemos — e é bonito ver os frutos disso”, pontua.
Sacrifício, apoio e missão
Hoje, Henrique e Jéssica vivem a rotina de pais de primeira viagem, enquanto Alex e Daniele equilibram a missão de criar três filhos — Maria Luiza, Ana Laura e Rafael — com o serviço na paróquia. Ambos os casais sabem que o matrimônio exige renúncias diárias.
“Às vezes é abrir mão de algo para ver o outro feliz. Quando faço algo que alegra o Alex, mesmo que exija esforço de mim, eu também me alegro. Afinal, somos uma só carne”, diz Daniele.
Henrique complementa indicando uma possível dica de ouro: o equilíbrio. “O equilíbrio exige entender o momento de investir na vida do outro e depois receber esse apoio de volta. Essa troca é o que nos fortalece”.
A fé e a vida comunitária são apontadas como sustentação. “A Igreja nos dá bagagem e força para enfrentar as dificuldades. Domingo na Missa é inegociável na nossa casa”, frisa Alex.
Abertura à vida diante dos desafios
Por alguns anos, Alex e Daniele adiaram a decisão de ter filhos, temendo o cenário de incertezas e dificuldades do mundo atual. O ponto de virada veio durante um momento de oração, quando uma irmã de comunidade os fez refletir que a educação cristã poderia ter para além do próprio lar.

“Ela nos disse: ‘Vocês são um casal católico, que caminha na Igreja. Os filhos de vocês vão influenciar e inspirar outros que não têm essa vivência, que talvez não tenham sequer uma religião’. Isso nos fez entender que gerar e educar filhos na fé não é apenas uma alegria pessoal, mas também uma missão para a Igreja e para o mundo”, recorda Alex.
A experiência logo se confirmou, conta Daniele que a primogênita já testemunha sem falar. “Na escola, pela forma de agir, ela inspira e provoca curiosidade. Ela tem apenas seis anos e já transmite valores que aprende em casa. É isso que queremos passar aos nossos filhos: viver de um jeito que fale por si”, acrescenta.
Matrimônio que gera novos chamados
A história deste casal traz ainda um elemento especial: o ingresso de Alex na Escola Diaconal. Hoje, ele está em formação para o diaconato permanente, vocação que não possui um domingo específico no calendário vocacional, mas que também merece atenção neste tempo de reflexão.
“Servir como diácono é uma missão exigente, mas que nasce dentro do próprio matrimônio. Não é um chamado que afasta da família, e sim que amplia o serviço dela para a Igreja e para os mais necessitados”, explica Alex. A esposa, por sua vez, reconhece seu papel no processo: “Se ele vai estar no altar, eu preciso dar suporte em casa. É uma missão vivida a dois, mesmo que de formas diferentes”.
Inspirar novas famílias

Em tempos em que a família é apresentada de forma distorcida, a Semana Nacional da Família surge como oportunidade de reafirmar sua importância. “É um momento para mostrar que, mesmo com desafios, o matrimônio vale a pena. Não existem famílias perfeitas, mas famílias que escolhem caminhar com Cristo”, defende Jéssica.
Para Daniele, os testemunhos apresentados na Semana Nacional da Família têm um papel fundamental. “Até para os jovens que estão chegando agora, discernindo sua vocação, quando eles veem um casal com 50 anos de matrimônio, percebem que é possível. É a coisa mais linda, mesmo sabendo que não foi um caminho só de flores, mas de perseverança apesar dos espinhos. […] Esse tempo também é um jeito de ajudar outras famílias a repensarem suas atitudes, se avaliarem e se abrirem para buscar ajuda em alguma dor que estejam passando”, explica.
Alex complementa, destacando o papel da Igreja nesse processo: “É a Igreja mostrando sua identidade e seu trabalho, mostrando que vale a pena. A família é a base de tudo”.
E Henrique conclui com uma mensagem que serve como síntese da vocação matrimonial: “Vale muito a pena buscar o sacramento do matrimônio, seguir um caminho do matrimônio. Guiar os filhos no caminho de Deus vale muito a pena. Não é fácil, como a gente falou em alguns momentos — existem os desafios —, mas é isso, é o que a gente já imaginava mesmo. É seguir firme, perseverante, se aproximar cada vez mais de Deus”.
Confira, abaixo, a entrevista com Henrique e Jéssica:
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