No último sábado, 29 de novembro, a comunidade de Chiador (MG) viveu um dos momentos mais significativos e aguardados: a reinauguração da Igreja Matriz Santo Antônio, solenemente restaurada, juntamente com a sagração do novo altar e a celebração do sacramento da Crisma para jovens e adultos da paróquia. A celebração presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora, Dom Gil Antônio Moreira, foi marcada por intensa participação dos fiéis e presença de autoridades.
De um sonho antigo a uma promessa concretizada
A reforma da Matriz foi um projeto que atravessou mais de dez anos de expectativas. Ao longo deste período, diferentes párocos, lideranças pastorais e grupos de fiéis se mobilizaram em várias iniciativas para tentar viabilizar a obra, mas o processo enfrentou sucessivas dificuldades técnicas, burocráticas e legais que impediram seu avanço.
A paroquiana Daiane Melo, relata que, apesar das incertezas, a cada troca de administração paroquial reacendia a esperança da restauração do local. “Houve momentos em que me acostumei com a ideia de que talvez nunca veria a reforma acontecer. Mas, no fundo, permanecia o desejo de ver aquele piso novo, de ver a Matriz restaurada com o carinho que ela merece. Era uma mistura de saudade do que ela já foi e esperança do que ainda poderia ser”, contou.
Esse cenário ganhou um novo impulso em fevereiro deste ano, com a chegada do atual pároco, Pe. Ronny Moreira de Oliveira. Integrando-se ao trabalho que já vinha sendo realizado ao longo dos anos, o sacerdote encontrou uma comunidade desejosa de retomar o projeto. Segundo testemunhos, um gesto simples seu marcou simbolicamente o início desta virada: “ao devolver a cruz junto à imagem de Santo Antônio, devolveu à comunidade a sensação de que Chiador voltava a encontrar sua luz”, afirmaram os fiéis. Muitos paroquianos relatam que, naquele momento, parecia que algo adormecido estava sendo despertado novamente.
Com organização, diálogo com os órgãos responsáveis e, sobretudo, com a mobilização intensa da comunidade paroquial, a obra deu prosseguimento. Durante esse processo, foram organizadas festas, rifas, bazares, mutirões, doações de materiais e campanhas diversas para viabilizar cada etapa da reforma. A vivência da fé comunitária também ganhou nova força, especialmente durante o período em que as portas da Matriz permaneceram fechadas.
O pároco contou que, ao longo dos quatro meses de trabalhos, a restauração evoluiu de forma cuidadosa, respeitando tanto as exigências civis – uma vez que a Matriz é patrimônio municipal – quanto as orientações da Igreja. Compuseram o projeto o novo piso, a restauração artística, a reforma e aquisição de móveis, o grande retábulo dedicado a Santo Antônio, a reorganização dos espaços internos, a ampliação da estrutura da catequese, a melhoria dos banheiros e da acessibilidade, além das intervenções na sacristia, escritório paroquial e capela do Santíssimo.
“Tudo aquilo que é fruto da bondade e da generosidade do nosso povo, nós fizemos com que fosse transformado em um ambiente que realmente nos conduzisse mais próximo de Deus”, pontuou Pe. Ronny. Para Daiane, cada detalhe revela o amor e cuidado com o povo. “Chiador merecia uma igreja que honrasse sua história e, ao mesmo tempo, fosse digna da fé viva de seu povo”, completou.
Uma caminhada de fé e perseverança

A história de Daiane com a Matriz atravessa gerações. Ao lembrar que sua avó se casou ali, que sua mãe recebeu sacramentos e que ela mesma também cresceu espiritualmente naquele templo, ela descreveu a reabertura como um reencontro afetivo com as raízes de sua família e de todo o povo chiadorense. “Muitas pessoas que ajudaram ao longo desses anos já não estão mais entre nós, mas permanecem vivas na memória e na obra que deixaram. A dor dos 10 anos de espera se transformou agora em uma alegria suave, madura, profundamente comunitária”, expressou.
O Pastor Arquidiocesano recordou os entraves enfrentados e manifestou profunda alegria em ver este momento se concretizando, destacando não apenas a beleza da obra realizada, mas também o renascimento da vida comunitária. “Além da reforma da Igreja, vemos um povo conquistado. Nunca vi esta igreja tão cheia como hoje, as laterais, as tribunas todas lotadas […] Viva Santo Antônio, nosso padroeiro, graças às bênçãos dele, graças ao esforço do povo, hoje nós podemos dizer: a igreja de Santo Antônio de Chiador está reformada, renovada, tanto a igreja de pedra, de tijolos, quanto a igreja de comunidade. É uma alegria para o coração do arcebispo ver tudo isso. Deus seja louvado, Santo Antônio nos proteja sempre”, reforçou.
A própria comunidade também quis expressar sua gratidão ao Pe. Ronny, destacando a coragem do sacerdote em enfrentar os desafios, a sua fé contagiante e a capacidade de despertar o melhor em cada fiel. “Quando o desânimo tomava conta, ele chegou para reacender o fogo dentro de nossos corações […] Não celebramos apenas paredes levantadas ou portas abertas, celebramos a restauração da esperança, o renascimento da fé, a transformação de toda uma comunidade”, concluíram.
Durante a celebração, Pe. Ronny devolveu a gratidão ao povo, ressaltando que tudo o que foi realizado não foi mérito dele, mas pela força da comunidade. “Tudo o que nós fizemos é graças a vocês”, afirmou. “Vocês não fizeram nada para mim, mas para Deus e para esta paróquia, que é de vocês”, completou. O sacerdote comparou a comunidade à parábola da pérola escondida, dizendo que, ao chegar a Chiador, encontrou um tesouro precioso. “Eu percebi que esta paróquia era aquela pérola escondida. Bastou cavar um pouquinho para descobrir quão rica ela é”, destacou.
Agradeceu ainda pela acolhida e pela disposição dos fiéis em colaborar em todas as etapas da obra. “Dou graças a Deus por vocês caminharem comigo, por estarem sempre atentos e por se esforçarem para me entender”, disse. De maneira humilde, reafirmou que seu papel foi apenas o de acompanhar e servir: “A história da paróquia é de vocês. Eu estou aqui por um tempo, mas vocês permanecem, a história permanece”, complementou.
O momento final da celebração também trouxe um simbolismo vocacional, quando o seminarista Caio Gonçalves, do 1º ano de Teologia e natural de Chiador, recebeu das mãos do pároco elementos litúrgicos do rito. “Mais do que um templo, a Igreja Matriz é o berço da minha vocação, onde, com o olhar atento, pude perceber tantos exemplos de fé, tantas vidas dedicadas ao propósito de Cristo, tantas lutas para manter nossa comunidade de pé, mesmo nos momentos mais difíceis […] Ao receber um dos livros contendo os ritos daquele dia, junto a uma das toalhas que secaram o santo óleo do Crisma que banhou o altar do banquete eterno, senti uma profunda alegria. Sabia que, por meio de pequenos símbolos, estava preservando e mantendo viva a vitória de um povo que, amando infinitamente a Deus, conseguiu restaurar a dignidade de nossa Igreja Matriz, transformando-a em um belo templo histórico e de fé”, afirmou Caio.
Como resume Daiane Melo, “esta reabertura é um sinal de que Chiador sabe caminhar junto, sabe acreditar, e sabe construir com fé aquilo que serve ao propósito maior de glorificar a Deus e fortalecer a nossa comunidade de fé”.
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