Na noite desta terça-feira Santa, 15 de abril, fiéis da Arquidiocese de Juiz de Fora se reuniram em grande número no Centro da cidade para participar da tradicional Procissão do Encontro, um dos momentos mais significativos da Semana Santa. O evento, que representa o doloroso encontro de Jesus Cristo, o Senhor dos Passos, com sua mãe, Maria, a Virgem das Dores, aconteceu após missas celebradas na Capela Senhor dos Passos, situada na Santa Casa de Misericórdia, e na Igreja São Sebastião.
O Arcebispo Metropolitano, Dom Gil Antônio Moreira, presidiu a Missa na Capela Senhor dos Passos e refletiu sobre os sofrimentos de Jesus e as reações humanas diante da dor e da traição. A homilia iniciou com um convite aos fiéis a se identificarem com as figuras evangélicas que cercam a Paixão de Cristo. “O sofrimento e a morte de Cristo são a paga dos nossos pecados […] Mas é necessário que Jesus sofresse, para que nós tivéssemos na conta o preço do nosso pecado, o preço das nossas faltas”, afirmou.
O Pastor Arquidiocesano destacou, ainda, a gravidade da traição de Judas e a negação de Pedro, narradas no Evangelho proclamado (Jo 13,21-33.36-38), contrastando essas figuras com a fidelidade de Maria. “Enquanto Judas perdeu o respeito, a confiança e a esperança, Pedro entrou dentro de si com uma outra atitude: o arrependimento […] E mesmo que ele estivesse no alto da cruz da fragilidade, Deus deu a ele a oportunidade da reconciliação. Pedro é o sinal da conversão. Judas, o sinal da derrota. Em que lugar nós estamos?”, exortou.
A homilia culminou com um chamado à fidelidade, exemplificado na figura de Maria. “Ela foi a mais fiel. Desde o ‘sim’ da encarnação até o silêncio da cruz, permaneceu de pé, sem perder o respeito, a confiança, a esperança. Que nós nunca percamos também”, concluiu.

Logo após a celebração da Eucaristia, as imagens saíram em procissão, percorrendo trajetos distintos até o Adro da Catedral Metropolitana, onde se encontraram sob silêncio, reflexão e oração. Ali, foi proferido o Sermão do Encontro, conduzido pelo Padre Ivair Carolino, Pároco da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e Vigário Episcopal para a Juventude.
“No caminho do Calvário, Jesus encontra a sua mãe. Troca de olhares, troca de experiências. Tivemos a oportunidade de meditar sobre este amor que emana do coração de Nossa Senhora e também do olhar de esperança que emana do coração de Jesus para com a sua mãe”, afirmou o sacerdote.
Um encontro de almas em meio à dor

Padre Ivair refletiu sobre a cena que inspirou a procissão: o instante em que Jesus, a caminho do Calvário, encontra sua mãe. Com base no Evangelho de João (Jo 19), o sermão ressaltou a dor lancinante de Maria e o amor incondicional que unia mãe e filho, mesmo no auge da humilhação e do sofrimento.
Ao longo da meditação, descreveu a dor de Maria não como uma simples tristeza, mas como uma ferida invisível, mas infinitamente profunda, vivida em silêncio, sob o peso do sofrimento do Filho amado. No cenário cruel da Paixão, Maria se fez presença firme e silenciosa, enfrentando a dor com a coragem de quem ama até o fim.
“Para Maria, cada chicotada que marcava as costas de Jesus era como se marcasse sua própria carne. Cada tombo, uma punhalada em seu coração. Ela viu aquele menino crescer, o homem que irradiava amor, e agora o via desfigurado, sob a cruz, tratado como um criminoso”, declarou no sermão.
A reflexão trouxe ainda uma potente conexão com as dores cotidianas dos fiéis. Padre Ivair convidou os presentes a refletirem sobre os seus próprios calvários: perdas, injustiças, enfermidades e dores emocionais. E destacou que, assim como Maria permaneceu firme, também os cristãos são chamados a confiar na presença constante de Deus.
“Maria não via apenas o Messias a caminho da crucificação, via o filho que embalou nos braços, e o amor que ela sentia ali, diante da dor, era um amor que transcende a morte. Assim também somos convidados a viver nosso amor e nossa fé, mesmo em meio à dor”, destacou.
Onde encontramos consolo e força?
A segunda parte do sermão foi marcada pela mensagem de consolo e esperança. O sacerdote apontou que a presença de Maria junto a Jesus é um farol para todos os que sofrem, um sinal de que não estamos sozinhos em nossas tribulações. Inspirado pela cena bíblica e pela tradição da Igreja, ele destacou três formas de buscar consolo em Deus:
- Na presença silenciosa: assim como Maria, que permaneceu ao lado de Jesus sem poder intervir, Deus permanece conosco em nossos sofrimentos, mesmo que em silêncio.
- Na fé inabalável: mesmo sem compreender o motivo de tanto sofrimento, Maria confiou no plano de Deus. Essa fé nos fortalece nos momentos de incerteza.
- Na comunhão da dor: ao compartilhar a dor do outro, como Maria compartilhou a dor de Jesus, tornamo-nos imagem viva do amor cristão e encontramos força na solidariedade.
Tradição que fortalece a fé
Para muitos fiéis, o momento foi profundamente emocionante. Sophia Lima da Silva, 24 anos, compartilhou o sentimento de vivenciar este momento. “Reviver o encontro de Maria com seu filho, agora sendo mãe também, foi algo muito forte. É um momento de muito silêncio, de muita reflexão. Acho que Juiz de Fora precisa de momentos assim, onde a fé nos move como comunidade”, avaliou.
O momento do encontro entre Jesus e Maria também é carregado de memórias afetivas e espirituais. É o caso de José Raimundo, integrante do Terço dos Homens da Catedral Metropolitana e da Igreja São Sebastião, que vê na procissão uma herança de fé transmitida por gerações. “Essa Procissão do Encontro é algo que carrego comigo desde criança, uma tradição de família. Toda vez que presencio esse momento, é como se eu voltasse no tempo e revivesse minha infância participando com minha mãe. É sempre instante muito bonito, toca o coração e nos faz refletir”, comentou .
Convite à vivência da fé
Ao final do sermão, Padre Ivair fez um chamado a todos os presentes para que continuem vivenciando os ritos da Semana Santa com fervor e fé, seja em suas comunidades ou paróquias: “É um momento singular da nossa Igreja, um momento de crescimento espiritual. Fique atento à programação da sua paróquia, não deixe de participar. Que o Senhor nos abençoe e nos conceda uma Santa e abençoada Páscoa”.
Clique aqui e confira os registros desta celebração.
por 