Com alegria imensa, abrimos nesta manhã festiva, nosso itinerário para celebrar o centenário de nosso querido Seminário Santo Antônio de Juiz de Fora. De fato, foi na manhã daquela memorável data de 1º de março de 1926, que Dom Justino José de Santana, nosso primeiro bispo, abriu, pela vez primeira, as portas desta nossa casa para formar padres a serviço desta Diocese. Fazia apenas um ano que o mencionado e saudoso Dom Santana havia tomado posse como Anjo Tutelar dessa igreja juiz-forana, criada a 1º de fevereiro de 1924. Era o amanhecer de uma nova realidade eclesial. Era o raiar do sol desta estrada em que, como povo de Deus, peregrinamos até os dias de hoje movidos por aquela graça inestimável, pela esperança que não tem ocaso, a Esperança que não Decepciona (cf. Rm 5,5). Associados ao Ano Jubilar da Esperança, nesta alvissareira efeméride, celebramos com júbilo a Ordenação Presbiteral de nossos estimados diáconos Leonardo José de Melo e Miron de Oliveira Messias.
Para associá-los às nascentes do nosso Seminário, registro aqui os nomes dos cinco primeiros padres ordenados naqueles primeiros anos da nossa diocese, hoje Arquidiocese:
1) Pe. Domingos Nardy Pereira, a 04 de setembro de 1927;
2) Pe. Mário da Silva Brasileiro, a 18 de agosto de 1929;
3) Pe. Sebastião Arruda Vieira Mendes, aos 20 de dezembro de 1930;
4) Pe. Francisco Maximiano de Oliveira, a 20 de dezembro de 1930,
5) Pe. José Férrer Ribeiro de Afonseca (*1910+1977), ordenado a 12 de dezembro de 1934, que foi Reitor de nosso Seminário por dilatados anos (1935-1946) e também Vigário Geral. No seu tempo, o prédio do Seminário era ainda o original, sendo que o que temos hoje é um edifício mais moderno e mais amplo, adequado às reformas eclesiais do Concílio Vaticano II, embora tenham sido aproveitadas algumas poucas estruturas do edifício antigo. O prédio atual é datado de 1969, construído por iniciativa de Dom Geraldo Maria de Morais Penido, nosso segundo Bispo e primeiro Arcebispo, que foi Padre Conciliar do citado Concílio Vaticano II em todas as suas sessões.
Confissão de fragilidade e fé
Contemplando esta manhã ensolarada de hoje, recordemos que, nas Sagradas Escrituras, as manhãs são sinais de alegria, de bênçãos, de festa. Assim é que o Livro do Gênesis, poeticamente, narra a ação de Deus Pai Criador: houve uma tarde e uma manhã e foi o primeiro dia (Gn 1, 5). Também foi numa manhã que as santas mulheres foram ao túmulo e constataram a Ressurreição do Senhor. Também foi numa manhã, pelo que parece, que aconteceram os fatos narrados no Evangelho que acabamos de ouvir, quando os apóstolos estavam lavando as redes, desanimados, depois de uma noite de insucesso nas lides de pescar. Foi neste momento que o Senhor, depois de ter entrado na barca de Pedro, os encorajou a irem para águas mais profundas e lhes ordenou lançarem novamente as redes, proporcionando-lhes, a seguir, a pesca milagrosa.
Duas palavras de Pedro nesta perícope nos chamam à atenção. A primeira é a sua linda profissão de fé: Trabalhamos a noite inteira e nada pescamos; mas pela tua Palavra, lançarei as redes. In Verbo tuo laxabo rete (Lc 5,5). E a segunda é sua humilde confissão de fragilidade ao dizer a Nosso Senhor: afasta-te de mim porque sou um pecador. Estas duas palavras invadem o nosso coração, quando estamos para assumir nova etapa de nossa vida, como é o caso da Ordenação Sacerdotal. Diante de Deus, professamos a nossa fé, sabendo que a obra que abraçamos é de Deus e não nossa. “Na tua palavra, lançarei as redes (Lc 5,5). Também todos nós nos encontramos pequeninos diante da grandeza incomensurável da Missão Sagrada e sentimo-nos em condição de frágeis pecadores, pois, como afirma São Paulo, trazemos este tesouro em vasos de barro, para que todos reconheçam que esse poder extraordinário vem de Deus e não de nós (II Cor 4, 7). Mais à frente no texto, Paulo vai dizer: Por Cristo, alegro-me nas fraquezas, nos insultos, nas privações, nas perseguições, nas angústias, pois quando sou fraco, então é que sou forte (II Cor 12, 10). É consolador o que o Senhor lhe segreda ao coração: Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente (II Cor 12, 9). Sem minimizar os esforços que temos de empregar todos os dias para vencer as investidas do mal, a consciência da graça de Deus é a força que nos impele a assumir, com coragem, as missões que Deus nos dá, prosseguindo e nunca desistindo.
Contemplamos também duas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, neste belo texto, quando diz aos apóstolos: Coragem! Não tenhais medo. Também, em outras ocasiões, ele repetirá esta mesma frase: Não temais, sou eu mesmo (Mt 14,27). Depois da Ressurreição ele também vencerá o medo dos discípulos (cf. Lc 24,36-40). No trecho de hoje, logo em seguida, dirá a segunda palavra que destacamos, ao dizer a frase mais vocacional de suas pregações: Farei de vós pescadores de homens (Lc 5, 4 ss).
Diz o texto sagrado que, imediatamente, os apóstolos deixaram tudo e o seguiram. Tal resposta se vê também na oração de Samuel ensinada pelo Sacerdote Eli: Fala Senhor, teu Servo escuta! (I Sam 3,10).
Coragem!
Caros Irmãos e irmãs, caros Diáconos Leonardo e Miron, caros seminaristas, formadores e formadoras de nosso Seminário, todas estas reflexões servem para cada um de nós individualmente, mas também se aplicam plenamente à missão de nosso Seminário que, há 99 anos, vem ouvindo do Senhor estas mensagens, desde seu amanhecer.
Caros Pe. Leonardo e Pe. Miron, permitam-me confidenciar uma reflexão muito pessoal. Em toda a minha vida ministerial, e chegando agora no entardecer do meu pastoreio, quase emérito, aprendi uma coisa ao ouvir tantas vezes este evangelho que escolheram, com nosso consentimento, para a ordenação sacerdotal de vocês. Muitas vezes, encontrando-me em situação de dificuldades, nunca me deixei levar pelo desânimo, pois, assim como a pesca daquela noite escura para os apóstolos parecia o fim, na verdade, tudo estava justamente recomeçando. É o que lhes tenho dito sempre: quando algo parece estar dando errado, não apavore. Deus está preparando algo melhor lá na frente. Na verdade, era Jesus que, ocultamente presente em ‘meu barco’, me dizia: coragem; não tenha medo. Você é meu pescador, não de peixes, mas de pessoas, de gente para o meu rebanho.
Para quem tem fé, uma coisa é certa: Deus está sempre no comando.
Louvemos a Deus, Nosso Senhor, por esta importante data de nossa Arquidiocese, o início do Ano Centenário de nosso Seminário, pela ordenação de mais dois padres para nossa amada Igreja Particular, e pela missão que nos confia. Cantemos sempre alegres e exultantes: Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor; de geração em geração eu cantarei vossa verdade! (Sl 88).
Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora
 
								 
								 
								 
								 
								 
								 
								 
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