Reflexões Bíblicas

7º dia (Lc 10, 3-12)

Após uma preparação inicial, Lucas envia os discípulos para a missão de continuar a propagar a Boa-Nova a todos os homens. No início, a missão era destinada ao grupo dos doze apóstolos (9,1-6), mas depois se expande para setenta e dois discípulos. Os doze apóstolos representam a missão a Israel (doze tribos) e os setenta e dois discípulos nos remetem aos setenta e dois povos mencionados em Gn 10 e aos setenta e dois profetas-anciãos de Nm 11,16-30, que, segundo a tradição rabínica, são os porta-vozes da Torá para a humanidade. Tal fato nos aponta que a proposta de Jesus vai se alargando, tornando-se destinada a todos os povos, de todas as raças. O evangelista deixa claro que o cristão tem de continuar no mundo a missão de Jesus, tornando-se testemunha, para todos os homens, da proposta de salvação que Cristo veio trazer.

Lucas, então, passa a descrever a forma como a missão se deve concretizar. Em primeiro lugar, avisa sobre a dificuldade da mesma, ao mencionar que os discípulos são enviados “como ovelhas entre lobos” (v. 3). Retrata a situação do discípulo fiel diante da hostilidade do mundo. Em segundo lugar, há uma exigência de pobreza e simplicidade nesta missão: os discípulos não devem levar consigo nem bolsa, nem alforje, nem sandálias; não devem deter-se a saudar ninguém pelo caminho (v. 4); também não devem saltar de casa em casa (v. 7). As indicações de não levar nada pelo caminho sugerem que a força do Evangelho não reside nos meios materiais, mas na força libertadora da Palavra; a indicação de não saudar ninguém lembra a urgência da missão; a recomendação de não pular de casa em casa indica que a única preocupação dos discípulos deve ser a dedicação total à missão e não a de encontrar uma hospitalidade mais confortável. Todos estes conselhos são para que os discípulos não percam o foco da missão, que é o anúncio do Reino de Deus.

Eles devem chegar às casas invocando “a paz” (vv. 5-6). Não se trata aqui, apenas, da saudação normal entre os judeus, mas do anúncio da paz messiânica que preside ao Reino. Um anúncio de um mundo novo fraterno, de harmonia com Deus e entre os homens, de bem-estar e de felicidade. Esse anúncio deve ser complementado por gestos concretos, que mostrem a presença do Reino no meio dos homens (v. 9). As palavras de ameaça a propósito das cidades que se recusam a acolher a mensagem (vv. 10-11) supõem que a rejeição do Reino trará consequências nefastas à vida daqueles que escolhem continuar a viver em caminhos de egoísmo, de orgulho e de autossuficiência.