São João del Rei recebe, com Arte e Beleza, seu novo Bispo

Foto: Olivia Lombardi
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Mais uma vez São João del Rei se reveste de gala para receber o novo Pastor, Dom José Eudes Campos do Nascimento. Ao adentrar a Catedral de Nossa Senhora do Pilar, expressão singular da arte barroca mineira, a comunidade o acolhe com a grande riqueza das tradições religiosas, que caracterizam a vida eclesial sanjoanense, banhada de genuína piedade e enlevo espiritual. Ali se conservam valores inalienáveis da fé católica com arte litúrgica e rico acervo musical. As celebrações do Natal, da Semana Santa, de Corpus Christi, das festas da Beatíssima Virgem Maria e dos Santos, mormente as de Nossa Senhora das Mercês e do Carmo, com suas orquestras e coros, procissões e novenários são, em São João del Rei, em Tiradentes, em Prados, em Rezende Costa e outras localidades, formas revestidas de singular beleza para prosseguir no trabalho santificador e evangelizador e da Igreja. São valores que a Igreja reconhece e não deseja perder.

Quanto a isso, o Concilio Vaticano II, em sua Constituição Sacrosanctum Concilium, afirma: Havendo em algumas regiões… povos que têm uma tradição musical própria, a qual desempenha importante função em sua vida religiosa e social, a esta música se deem a devida estimação e o lugar conveniente, tanto para lhes formar o senso religioso, quanto para adaptar o culto à sua mentalidade (SC 119). Paulo VI (1963-1978), na mensagem aos artistas no encerramento do Concílio, já afirmava: O mundo em que vivemos tem necessidade da beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, traz o gozo ao coração dos homens; é este fruto precioso que resiste ao tempo, que une as gerações e as faz comungar na admiração (Mens. Artistas 08.12.65)

São João Paulo II (1978-2005), na sua Carta aos Artistas, cita Pavel Florenskij que, a respeito do emprego do ouro na decoração das igrejas, diz: Bárbaro, pesado, fútil à luz clara do dia, o ouro reanima-se com a luz trémula dum candelabro ou duma vela, que o faz cintilar aqui e ali com miríades de fulgores, fazendo pressentir outras luzes não terrestres que enchem o espaço celeste. (A perspectiva invertida e outros escritos, Roma 1984, in Carta aos Artistas 04.04.99). Na mesma Carta, São João Paulo diz aos artistas: A beleza que transmitireis às gerações futuras seja tal que avive nelas o assombro. Diante da sacralidade da vida e do ser humano, diante das maravilhas do universo, o assombro é a única atitude condigna.

O Papa Bento XVI (2005-2013), na Exortação Apostólica, Sacramentum Caritatis, ressalta o valor da beleza na ação litúrgica, e na “Viritatis Splendor” insiste: De fato, a liturgia tem uma ligação intrínseca com a beleza. …Na liturgia, brilha ao mistério Pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a si e nos chama à comunhão. Recorda o Papa Bento que, até mesmo para os turistas, muitas vezes, o contato com a arte sacra é a única oportunidade de contemplação do mistério divino e isso pode ser veículo de aproximação de Deus.

O Papa Francisco, tratando da Via Pulchritudinis (o caminho da beleza), destaca sua função na obra evangelizadora da Igreja, e como estrada de aproximação de Deus quando afirma: “a força do estilo românico e o esplendor das catedrais góticas nos recordam que a via pulchritudinis é um percurso privilegiado para aproximar-se do mistério de Deus… Mais adiante, continua o Papa: É necessário que os templos sagrados, começando pelas novas igrejas paróquias, sobretudo as situadas nas periferias e contextos degradantes, se tornem oásis de beleza, de paz e acolhimento… Que favoreçam o encontro com Deus e a comunhão com os irmãos e irmãs, tornando-se ponto de referência para o crescimento integral de todos os habitantes, em prol do desenvolvimento harmonioso e solidário das comunidades… Cuidar das pessoas, começando dos pequenos e indefesos, significa cuidar também do ambiente em que eles vivem. (Papa Francisco, Discurso na XXI Reunião Pública das Pontifícias Academias, 07.12.16).

Falando aos artistas dos Museus do Vaticano, em setembro de 2018, Papa Francisco afirma: A arte é uma beleza que faz bem para a vida e cria comunhão, porque une Deus, o ser humano e a Criação numa única sinfonia, porque une o passado, o presente e o futuro, porque atrai ao mesmo local e envolve no mesmo olhar pessoas diferentes e povos distantes (Mensagem aos Promotores de Arte nos Museus do Vaticano 29.09.2018). Em 2015, ele já havia dito aos artistas circenses: Deus certamente é verdadeiro, Deus certamente é bom, Deus certamente sabe fazer as coisas, criou o mundo, mas sobretudo Deus é belo. Francisco terminou a saudação com um apelo: Muitas vezes esquecemo-nos da beleza. A humanidade pensa, sente, faz, mas hoje há muita necessidade de beleza. Não esqueçamos isto! (Papa Francisco aos Artistas Circenses, 07.01.2015).

É com a beleza que salva, reflexo do maravilhoso rosto místico de Deus, que São João abraça seu novo Antístite.

Dom Gil Antônio Moreira
Arcebispo Metropolitano de Juiz de Fora

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